Lélia Gonzalez e a luta pela eliminação da discriminação racial
Desde 1966, 21 de março é marcado por ser o Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial e, apesar de ser uma data muito importante, nem sempre é lembrada e, muito menos, respeitada. Lélia Gonzalez, constantemente atenta às pautas que importam, não deixou a data passar em branco.
O tema da discriminação racial e seus desdobramentos é recorrente na obra de Lélia, porém, hoje, um texto me chamou especial atenção. Em “Alô, alô, Velho Guerreiro! Aquele abraço!”¹, a pensadora mineira dá início a suas reflexões lembrando o Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial e retomando uma fala do apresentador Chacrinha sobre a temática.
Sem papas na língua, o Velho Guerreiro frisou a existência da discriminação racial do Brasil e citou práticas televisivas reprováveis – mas não surpreendentes. Na entrevista citada, ele detalhou o dia a dia do mundo da TV, que incluía a proibição das câmeras focarem diretamente o auditório, para que negros e negras não fossem mostrados na telinha.
Quarenta anos depois, o Brasil segue escondendo a população negra e, quando não é possível, articula-se para nos eliminar a todo custo. No século 21, pretenso símbolo de futuro, nosso país continua a deixar a população negra liderando trágicas estatísticas, como a de mortes evitáveis, de desemprego e de analfabetismo² , entre outras.
As taxas de homicídios de negros e negras, por exemplo, crescem a cada ano enquanto a taxa de não-negros diminui no mesmo recorte temporal³ . Movimentos racistas e conservadores parecem ganhar força nos últimos tempos, colocando em xeque a atual democracia brasileira. Diante de um
cenário tão caótico e pouco promissor, o que fazer?
Na carta a Chacrinha, Lélia adverte: “Mas nem por isso vamos ficar passivamente calados assistindo à decadência desse império romano de hoje que é a chamada civilização ocidental. Afinal, somos os bárbaros que o derrubarão. Por isso mesmo temos que assumir nossos bárbaros valores, lutar por eles e anunciar uma nova era. Nova era de que somos os construtores”.
Ou seja, a despeito de toda dor e retrocesso, haverá futuro e, se tudo sair como o esperado, será bem diferente do presente que insiste em manter a discriminação racial e seus nefastos resultados.